Abril Azul: Doutora Maria José Martins Maldonado ressalta importância do diagnóstico precoce do autismo

Em abril, o azul assume um significado especial para milhões de pessoas em todo o mundo. Não apenas por representar a consciência do autismo, mas também por destacar a necessidade de compreensão e inclusão para aqueles que vivem com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A neuropediatra Maria José Maldonado, que atende diariamente casos de TEA, compartilhou um pouco do autismo e a importância do diagnóstico precoce.

 

O autismo é um espectro complexo de desordens do desenvolvimento neurológico, que afeta a comunicação, interação social e comportamento. No entanto, cada indivíduo com TEA é único em suas características e habilidades. A Doutora Maria José trouxe uma visão sobre as particularidades do transtorno. “Podemos ver as pessoas com TEA como ‘estranhos sociais’, em um sentido que destaca sua singularidade e desafios na interação social. Isso porque eles têm dificuldade de comunicação e de socialização. É uma doença que tem uma base genética, com modificação do meio ambiente, mas que na família há pessoas portadoras de autismo”, explicou.

 

Parafraseando Leo Kanner, Maria José descreve esses indivíduos descritos pelo autor em 1943 , que apresentavam duas características marcantes em seu quadro clínico, “aloness”, pessoas mais sozinhas e isoladas, e “sameness”, o indivíduo que faz sempre a mesma coisa. Ela acrescenta que o diagnóstico é clínico, e não laboratorial, porque é preciso fazer uma análise comportamental. “Nós pedimos uma avaliação neuropsicológica, avaliada a partir de várias escalas que classifica o indivíduo conforme a intensidade do TEA, se é de nivel de suporte 1, 2 ou 3”.
Ela explicou que a Sociedade Brasileira de Pediatria determinou desde 2017 que seja feito o Teste M-CHAT para identificação precoce durante a puericultura. Trata-se de um teste de triagem e não de diagnóstico e é exclusivo para sinais precoces de autismo e não para uma análise global do neurodesenvolvimento.

 

Indivíduos diagnosticados precocemente têm mais chance de tratamento. “Crianças diagnosticadas mais novas ficam mais funcionais, a partir das intervenções reabilitadoras, pois conseguem trabalhar, estudar, como no nível 1, diferente do 2 ou 3 que dependem de monitoramento de um responsável”, disse a doutora.

 

Segundo Maria José, antigamente as pessoas eram diagnosticadas tardiamente, mas agora o cenário está mudando. “Os diagnósticos eram feitos com crianças já com seis ou sete anos, e até com mais de 12 anos. Nosso sonho seria um diagnóstico por volta de um ano e meio. Com a maior divulgação, cada vez mais, as pessoas vão lendo sobre isso e trazendo mais precocemente suas crianças”, explicou.

 

Dados do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos (sigla em inglês CDC), mostram que a prevalência do TEA, que já foi de um para cada 15 mil crianças anos atrás, agora passou a 1 para 40 crianças segundo a divulgação em abril de 2023. Com o aumento de diagnósticos no país, os médicos recebem cada vez mais crianças com suspeitas de TEA. “Hoje, suspeitas de casos de TEA lotam meu consultório ou o ambulatório da faculdade, seguido por casos de TDAH, e são a grande frequência do nosso atendimento, depois os distúrbios de aprendizado, enxaqueca, dentre outras patologias”.

 

Campanhas como o Abril Azul incentivam o debate e o diagnóstico precoce. “A nossa atuação enquanto neuropediatra, que acompanha também o desenvolvimento psicomotor da criança, é a identificação precoce. Campanhas assim ajudam para que os familiares possam identificar precocemente, e ir à busca do profissional que pode melhor orientar”.

 

Neste Abril Azul, a AMMS ressalta a importância de todos se comprometerem a não apenas aumentar a conscientização sobre o autismo, mas também a criar um mundo onde todas as pessoas, independentemente de sua neurodiversidade, se sintam valorizadas, incluídas e capacitadas a alcançar seu pleno potencial.

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