Mato Grosso do Sul é o 3º estado com maior número de casos
Em um cenário onde os números de suicídio crescem alarmantemente, a campanha Setembro Amarelo surge como uma luz no combate ao estigma e à prevenção dessa triste realidade. A médica psiquiatra Gislayne Budib, presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Psiquiatria e coordenadora municipal da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), ressalta a importância da campanha para salvar vidas.
Nos últimos anos, especialmente após a pandemia de COVID-19, cresceu o número de casos de ansiedade e depressão a nível mundial, o que podem levam ao suicídio. “Há ainda fatores culturais e socioeconômicos que influenciam essa alta taxa, como perdas financeiras e familiares com a Covid, o luto, além de sequelas que levam a alterações físicas e psicossociais”, pontua a especialista.
No Brasil, mais de 14 mil pessoas tiram suas próprias vidas todos os anos. Mato Grosso do Sul ocupa a triste posição de ser o terceiro estado com o maior número de suicídios, atrás apenas do Rio Grande do Sul e Piauí, segundo dados do Ministério da Saúde de 2021. A Dra. Gislayne ressalta que o suicídio é um problema complexo, e multifatorial. “Além da pandemia ter aumentado casos de ansiedade e depressão, há causas genéticas, como esquizofrenia, além de uso de álcool e drogas, acesso a medicamentos e armas de fogo, pois estamos em um estado de fronteira, problemas com organofosforados, dentre outros”.
Segundo dados do Perfil Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Mato Grosso do Sul, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, e os números crescem ao longo da adolescência, estabilizando-se na vida adulta. “A adolescência é uma fase crítica, com muitas mudanças emocionais e psicológicas, o que aumenta o risco. No entanto, o que vemos é que a vida adulta também traz desafios que, quando não tratados, podem levar a consequências graves”, explica a Dra. Gislayne.
Os homens são as maiores vítimas, como pode ser observado abaixo, na série histórica 2012-2022, de acordo com dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). No ano de 2022, dos 321 casos, a mortalidade por suicídio entre homens foi de 74,8%.
A Campanha Setembro Amarelo, criada em 2014 no Brasil, veio para quebrar o silêncio em torno do suicídio. “Ainda há muito tabu, preconceito, porque muitos acham que é fraqueza, falta de caráter, de religião, além de falta de informação sobre o tema. Nosso objetivo é conscientizar as pessoas sobre os sinais de alerta e a importância de buscar ajuda”, destaca a Dra. Gislayne.
A médica enfatiza que a campanha serve como um espaço de diálogo e incentivo para que aqueles que sofrem em silêncio se sintam acolhidos e busquem apoio. “Quanto mais falamos sobre isso, mais conseguimos alcançar quem está precisando de ajuda, além de preparar a sociedade para lidar de forma mais sensível e eficaz com essa questão”, conclui.
“Se Precisar, Peça Ajuda”
A Associação Médica de Mato Grosso do Sul apoia a campanha Setembro Amarelo destacando a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para prevenir o agravamento da condição.
Se você ou alguém que conhece está passando por momentos difíceis, não hesite em procurar ajuda. Os serviços da Rede de Atenção Psicossocial e o Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende gratuitamente pelo telefone 188, estão à disposição para apoiar quem precisa.