Álcool e drogas: quando o uso se torna doença
O dia 20 de fevereiro marca o Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo, uma data essencial para reforçar a conscientização sobre os riscos do consumo abusivo de substâncias e a importância da prevenção e do tratamento.
O uso excessivo de álcool e drogas pode gerar sérias consequências para a saúde física e mental, além de impactar a vida social e profissional dos indivíduos. O médico psiquiatra Kleber Meneghel Vargas, Professor e Preceptor da Residência de Psiquiatria da UFMS, da Sociedade de Psiquiatria, esclarece os principais riscos associados ao consumo excessivo de álcool e drogas.
O consumo excessivo de substâncias como álcool, tabaco, cocaína e anfetaminas pode causar sérios danos à saúde. “O uso prolongado está associado a diversas doenças físicas, como câncer de pulmão, problemas hepáticos, demência alcoólica e déficits cognitivos”, explica o Dr. Kleber. Além disso, há uma relação direta com transtornos mentais, incluindo ansiedade, depressão e dependência química, que incapacita o indivíduo a controlar o uso da substância mesmo diante de prejuízos evidentes para sua vida.
Segundo ele, estudos indicam que o abuso de qualquer substância pode reduzir significativamente a expectativa de vida, especialmente em pessoas que já possuem doenças pré-existentes, como diabetes e hipertensão. “Pacientes continuam consumindo mesmo sabendo dos danos à saúde, ao trabalho e às relações familiares, o que reforça a gravidade da dependência química”, acrescenta o psiquiatra.
Aumento do consumo e fatores envolvidos
Nos últimos anos, o consumo de substâncias psicoativas tem aumentado mundialmente, e diversos fatores contribuem para essa realidade. Segundo o Dr. Kleber, uma das razões é a popularização dos cigarros eletrônicos, que passaram a atrair principalmente adolescentes e jovens adultos. Além disso, mudanças nas legislações sobre determinadas drogas, como a maconha, podem influenciar na percepção de risco e, consequentemente, no aumento do consumo.
Nos países onde houve a legalização do uso recreativo da maconha, como Canadá e Estados Unidos, observou-se uma alta no número de usuários, o que pode gerar impactos preocupantes para a saúde pública. “O uso precoce da maconha, por exemplo, pode aumentar em até quatro vezes o risco de desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, como a esquizofrenia”, alerta o especialista.
Outro fator relevante é o uso indiscriminado de medicamentos controlados, como hipnóticos e psicoestimulantes. O chamado doping cognitivo, que envolve o uso de substâncias para melhorar o desempenho em estudos e trabalho, também pode levar à dependência e trazer sérios riscos à saúde.
Primeiros sinais
A dependência química se manifesta de diversas formas e pode ser percebida por mudanças no comportamento do indivíduo. Entre os principais sinais de alerta estão irritabilidade excessiva, alteração no padrão de sono, dificuldades financeiras, faltas no trabalho e isolamento social.
Para ajudar na prevenção e no tratamento, amigos e familiares devem estar atentos a esses sinais e incentivar a busca por ajuda profissional. “É essencial lembrar que a dependência é uma doença e não uma questão de falta de caráter ou fraqueza moral. O apoio adequado pode fazer toda a diferença na recuperação do paciente”, ressalta o psiquiatra.
Opções de tratamento
O tratamento da dependência química deve ser personalizado e pode envolver diferentes abordagens, desde acompanhamento psiquiátrico até internação em casos mais graves. O primeiro passo é a avaliação por um especialista para identificar a gravidade do quadro e possíveis comorbidades, como transtornos de ansiedade ou personalidade.
“Quase 50% dos dependentes possuem outra condição psiquiátrica associada, o que exige um tratamento multidisciplinar, envolvendo terapeutas e outros profissionais de saúde”, explica o Dr. Kleber. Além disso, hábitos saudáveis, grupos de apoio e suporte familiar são fundamentais para o sucesso da reabilitação.
A importância da conscientização
Datas como o Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo são fundamentais para reforçar a conscientização e levar informações baseadas em evidências científicas à população. Além de alertar sobre os riscos do consumo abusivo, é fundamental incentivar hábitos saudáveis e promover treinamentos e palestras, especialmente voltados para adolescentes e jovens.
“O combate às drogas e ao alcoolismo deve ir além da repressão. É necessário educar, informar e oferecer suporte para quem precisa de ajuda”, conclui o Dr. Kleber.
Se você ou alguém próximo enfrenta dificuldades com o consumo de álcool ou drogas, procure ajuda especializada. O tratamento pode transformar vidas e permitir um futuro mais saudável e equilibrado.